Projeto da rodovia prevê a criação de passa-fauna que protege os animais da região.
Construída em época de grande preocupação com a preservação do meio ambiente, a BR-448 (Rodovia do Parque) foi pensada para reduzir impactos ambientais que podem ser trazidos com a implantação de uma rodovia. Ao mesmo tempo em que viadutos, pontes e vias são construídos, equipes trabalham para preservar o equilíbrio ecológico e ambiental de todos os trechos por onde passará. Os projetos, que começaram antes do início das obras, seguem em paralelo até a conclusão e depois que a BR-448 estiver em funcionamento.
O trabalho vai desde um monitoramento arqueológico das aéreas até a preocupação com o transplante de flora nativa para áreas onde não sentirão impacto. O cuidado com os animais também aparece com a construção da passagem de fauna, ou passa-fauna, como também é chamada. Essa será a segunda estrada do Estado a contar com essa estrutura, que busca proporcionar um caminho para que os animais que vivem nessas áreas consigam usar os dois lados da via evitando andar por cima da pista e correndo o risco de serem atropelados.
Segundo o coordenador do consórcio de Gestão Ambiental da BR-448, Adriano Panazzolo, um estudo há quatro anos apontou quais eram as áreas onde havia a necessidade da construção dos passa-fauna. Atualmente, são construídas três passagens entre Canoas e Esteio.
Habitat conservado
Na maioria das estradas gaúchas, principalmente no interior do Estado, é comum em uma viagem não muito curta enxergar diversas espécies atropeladas ao longo das rodovias. O coordenador do consórcio de Gestão Ambiental da BR-448, Adriano Panazzolo, explica que além desse objetivo da preservação da vida desses animais também foi pensada a conservação do habitat dessas espécies que antes viviam dos dois lados da estrada.
Passagem subterrânea
A BR-448 será a segunda estrada do Estado que contará com o passa-fauna. A primeira é a BR-471, onde fica a Estação Ecológica do Taim. O passa-fauna da Rodovia do Parque terá 6 quilômetros da estrada (do km 15 a 21) e passará pelo Parque Delta do Jacuí, que é considerado Área de Preservação Permanente (APP).
A construção da passagem de fauna não surge como uma solução para acabar com o atropelamento de animais, mas auxilia a reduzir. Nas áreas apontadas como mais propícias para a passagem dessas espécies, uma cerca de 50 metros de extensão faz o acompanhamento dos bichos e os direciona até a passagem de fauna. A estrutura de concreto, que fica abaixo do solo, terá entre 30 e 40 metros, mesma extensão prevista para a estrada. Após a operação da rodovia, o monitoramento da fauna seguirá ocorrendo por dois anos.
Trabalho adiantado em Esteio
É em Esteio, no km 4, em um canal de irrigação, que está a construção mais evoluída da passagem de fauna. Na semana passada operários trabalharam na estrutura de madeira que servirá de forma. Para os próximos dez dias está prevista a colocação de ferros e a concretagem.
Ali dentro, o espaço de 1 metro e meio, tanto de largura quanto altura, garante a passagem dos bichos. Estudos também levaram em consideração a passagem de luz e ar pelo canal. Também está previsto para as pontes que passarão sobre o Arroio Sapucaia e a Vala da Curitiba um alargamento próximo aos pilares com cercamento para facilitar a passagem de animais, principalmente aqueles que vivem em banhados.
Cuidado com o destino dos resíduos
Os cuidados com o meio ambiente durante a construção da BR-448 passam por várias frentes de trabalho. Através do programa de gerenciamento de resíduos, todo o lixo gerado é segregado e armazenado de acordo com suas características. São encaminhados 90% dos resíduos oriundos dos escritórios e refeitórios para a reciclagem, e a parte orgânica para um aterro sanitário.
O material que vem de equipamentos e veículos é mandado para um aterro industrial licenciado. Já o que sobra das obras e construções é reutilizado, ou encaminhado para um aterro de resíduos de construção civil, de forma que no futuro possam vir a ser reciclados.
Qualidade da água
3 A cada três meses, tanto as águas que estão em superfície quanto as subterrâneas são monitoradas. O trabalho, que começou no início das obras deve seguir por mais dois anos após o início da operação da rodovia. Após pré-determinar as áreas, 24 pontos foram identificados para que aconteça a coleta da água.
Para o biólogo Jackson Müller, professor da Unisinos, iniciativas como o passa-fauna são importantes e deveriam ser aplicadas em outras obras, mas não são suficientes. ‘‘O impacto ambiental de uma obra como esta é grande, pois a região onde a rodovia está sendo construída é uma zona de banhado e rica em biodiversidade. É de grande extensão e de alto potencial poluidor’’, diz o biólogo.
Segundo Müller, três passa-faunas são pouco para a quantidade de animais que deve passar a cruzar a rodovia quando estiver pronta. ‘‘A ideia (de passa-faunas) é nobre e trata-se de uma medida alternativa em função do progresso necessário, porém é preciso pensar barreiras naturais, construídas com arborização, e monitoramento da via em função do grande número de animais que vão ali para se reproduzir e se alimentar’’, sugere o biólogo.
Palestras ambientais
Enquanto a BR-448 vai nascendo entre as cidades, palestras ambientais voltadas para moradores dos arredores mostram o trabalho que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a empresa vêm fazendo. Durante os encontros, que ocorrem em parceria com instituições de ensino e órgãos públicos, são apresentados os 22 programas ambientais executados durante a construção da estrada.
Até junho já participaram de palestras educativas cerca de 460 professores e 1.939 alunos, além 211 pessoas ligadas a órgãos públicos e 372 trabalhadores ligados à obra. Nas séries iniciais de escolas visitadas, o mascote João de Barro também visita as turmas.
Mais árvores
Durante as obras, as equipes se deparam com árvores que são protegidas por lei e não podem ser cortadas. Para garantir a preservação dessas espécies, essas árvores são retiradas, com raiz, e recolocadas em outros locais onde não sintam de forma brusca a mudança. Até o momento, nos três lotes da obra, 141 árvores já foram transplantadas.
Segundo a empresa que faz a gestão ambiental da obra, como ainda existem frentes de obras a serem abertas, mais árvores devem ser transplantadas. Além das estruturas de passagem de fauna, em Canoas as passagens no Arroio Sapucaia e na Vala da Curitiba, que são destinadas para o escoamento dos cursos da água, também possibilitarão a travessia dos animais que circulam nos arredores.
Agricultor diz que é comum ver preás
O agricultor Alafe Michel da Silva, 18 anos, está acostumado com a presença de animais, como preás, capivaras e lontras, próximo à área de terra onde estão sendo feitas as obras da BR-448, no bairro Novo Esteio, em Esteio. O jovem conta que ao lavourar nos campos de arroz nas proximidades da obra encontra em especial os preás, também conhecidos como ratos do mato.
‘‘Há muitos desses animais por aqui, mas com as obras eles acabaram se escondendo mais e procurando comida em outro local. Já cheguei a ver capivaras correndo pelos matos’’, diz o agricultor. Já o metalúrgico Reni Oliveira da Silva, 32 anos, morador da Avenida Celina Kroeff – via que dá acesso às obras –, conta que há muitos anos não vê animais no local. ‘‘A única espécie que ainda observo é o preá, que fica próximo aos trilhos do trem, mas capivaras não vejo desde 1984.’’
sexta-feira, 8 de julho de 2011
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