quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ciclistas criticam submissão ao imaginário do automóvel

Além dos aspectos econômicos envolvendo a redução de IPI para as bicicletas, há também uma dimensão social e até mesmo política nessa questão, já que pessoas que utilizam esse meio de transporte diariamente reclamam que a bicicleta não é vista com seriedade pelos governos e, muito menos, pelos motoristas de carros. O diretor-geral da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), Thiago Benicchio, diz que é importante reduzir o IPI e incentivar a compra de bicicletas, mas avalia que esse não é o ponto principal no debate. “Desde 1950, o Estado brasileiro é refém da indústria automobilística. Qualquer forma de transporte alternativa fica em segundo plano e todas as políticas de benefício são destinadas a esse setor”, critica. Para ele, o governo precisa perceber que “apesar de a indústria automobilística movimentar uma enorme quantia de dinheiro, causa prejuízos urbanos e ambientais que não são contabilizados”. O cicloativista observa que as políticas públicas e urbanísticas destinadas exclusivamente ao automóvel “alimentam o imaginário que existe em torno do carro”. “A construção de cada vez mais pontes e viadutos é uma ótima aliada ao conceito de que carro é sinônimo de liberdade”, compara. William Cruz ressalta ganho de competitividade com redução de IPI, mas diz que país é refém da indústria automobilística | Foto: Reprodução/Preferência à Vida. Entretanto, Benicchio acredita que, com a intensificação dos problemas urbanos causados pelo automóvel – como os congestionamentos e a poluição -, a população está se dando conta de que é preciso aderir a outros modelos. “Os problemas saltam aos olhos e as pessoas passam a enxergar a possibilidade de alternativas”, comenta. Para o organizador do portal Vá de Bike, William Cruz, a possibilidade de as bicicletas serem isentas de IPI é “positiva” e contribui para “quebrar o ciclo” que faz com o país seja “refém da indústria automobilística”. “Reduzir o IPI dos fabricantes nacionais fará com que o produto se torne mais competitivo em relação ao que vem de fora, principalmente da China. E a bicicleta passaria a ser, ainda mais, uma alternativa viável para as pessoas de baixa renda”, comenta. O cicloativista gaúcho Marcelo Sargbossa, diretor do Laboratório de Políticas Públicas e Sociais (LAPPUS), prevê que uma possível redução de IPI fará com que as pessoas comprem bicicletas de melhor qualidade. “Tem muita gente adquirindo bicicletas de R$ 200 que duram muito pouco tempo e acabam gerando até um trauma, já que o sujeito tem que estar o tempo todo indo na oficina”, avalia. A reportagem tentou, durante dois dias, contato com dirigentes da Abraciclo, mas até o fechamento desta matéria não recebeu retorno da assessoria de imprensa. Por http://sul21.com.br/jornal em 20.6.2012

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