quinta-feira, 3 de maio de 2012
Pedalar é coisa de maluco?
Por experiência própria, digo que apesar de termos pouquíssima infraestrutura e incentivo do poder público a optar por esse meio de transporte, a bicicleta muitas vezes acaba se mostrando mais eficaz do que andar de carro. Mas, se em São Paulo a bicicleta parece estar longe da pauta política, nos locais por onde já passei com o Cidades para Pessoas, a realidade é outra. Em Londres, Paris, Amsterdam e Copenhague ela é uma reconhecida solução de mobilidade urbana que, se combinada a outras, não só melhora o trânsito como é lucrativa para a cidade.
Em Copenhague por exemplo, a prefeitura fez as contas para saber exatamente quanto ganha com o uso de bicilcetas como meio de transporte. As variáveis consideradas são: tempo de locomoção, gastos com infra estrutura e saúde pública e turismo. Resultado: a cada quilômetro pedalado a cidade ganha R$ 0,40. Ao passo que a cada quilômetro percorrido de carro, a cidade perde R$ 0,25. O prefeito, então, resolveu se apropriar da cultura de bicicletas que já estava concolidada na cidade e incentivá-la ainda mais. Uma das medidas criadas foram as chamadas “ondas verdes”: toda ciclovia possui semáforos em Copenhague e, se o ciclista mantiver uma velocidade média de 20 km/h vai pegar todos abertos. “Isso aumenta um pouco a velocidadeda média das bicicletas e faz com que sejam um meio ainda mais eficaz de locomoção” explica Andreas Røhl, funcionário da secretaria de transportes da prefeitura responsável por melhorar a vida de quem pedala na cidade. No centro da capital dinamarquesa, 55% dos deslocamentos são feitos de bicicleta. E a prefeitura tem como meta estabelecer essa média em toda a cidade, onde as bicicletas são responsáveis por 33% das viagens diárias.
Em Amsterdam também um terço dos deslocamentos é feito de bicicletas. E o que a prefeitura faz para garantir seu uso é, simplesmente, manter a cidade como está. Já é um ambiente propício para as magrelas e pouco amigável aos carros: dirigir nas ruelas do centro da cidade é pedir para ficar parado no trânsito. A velocidade máxima permitida nessas vias centrais gira em torno dos 30 km/h e pode baixar até 15. Resultado: é mais rápido, mais prático e bem mais agradável andar de bicicleta por lá.
Talvez comparar as cidades brasileiras com os dois exemplos acima seja covardia. São cidades menores, planas, com uma infra estrutura de ciclovias que garantem que pedalar seja seguro. Mas o exemplo de Londres pode ser mais eficaz em mostrar que essa também é uma solução possível em cidades grandes. Em vez de uma grande estrutura cicloviária, Londres possui algumas ciclovias em locais estratégicos que são mais estreitas do que as de Copenhague e Amsterdam e, em sua maioria, são apenas uma faixa pintada na pista – mas sempre respeitada por motoristas.
O caminho escolhido pela secretaria de transportes inglesa foi, em vez de criar uma rede cicloviária por toda a cidade, o que demoraria muito tempo e custaria muito dinheiros, garantir que muitas bicicletas estivessem circulando. Esse é o princípio da massa crítica, conceito desenvolvido na década de 70: quanto mais bicicletas na rua, mais seguro é pedalar. Então as medidas tomadas foram: um treinamento massivo com motoristas de ônibus, que, por lei devem dividir a faixa preferencial com ciclistas, para que respeitassem as bicicletas (e, por experiência própria, digo: funcionou, todos os ônibus me ultrapassavam a uma distância segura) e a criação do sistema de aluguel de bicicletas Barclays. É uma cópia do vélolib, criado em Lyon, que ficou famoso em Paris com o nome de vélib. São bicicletas públicas que podem ser alugadas com cartão de crédito, retiradas e devolvidas em ponto espalhados pela cidade. Para quem quer fazer um delocamento curto ou médio pelo centro dessas cidades, a bicicleta se torna a melhor opção. E, a qualquer hora do dia, há ciclistas circulando pelas ruas. O sistema está em funcionamento em Londres há um ano e já conta com 400 estações que disponibilizam 6 mil bicicletas. A grande diferença em relação ao sistem de Paris é que para alugar uma velib é necerrário um depósito de 150 euros debitado do cartão de crédito, que depois é devolvido. Em Londres não há caução, o que democratiza o acesso.
Em Paris, junto o vélob já funciona desde 2007 e hoje possui 1.202 estações com mais de 2 mil bicicletas. Estima-se que 110.000 bicicletas sejam alugadas por dia na cidade. Junto com o velib há uma regra de fluxo de trânsito que prioriza das bicicletas: elas sempre podem andar em qualquer direção na rua, ainda que seja uma via de mão única. Placas com “sentido proibido, exceto para bicicletas” ou sinalização no chão mostrando que bikes são permitidas na contramão são bem comuns pela cidade.
Ainda não há numeros consolidados sobre o efeito que as bicicletas de aluguel provocaram nas divisões modais em Londres e Paris. Mas a percepção dos habitantes é a de que o número de ciclistas aumentou bastante pelas duas cidades.
O que os governantes brasileiros ainda não descobriram é que, ao investir em bicicletas, todo mundo sai ganhando. E está mais do que na hora da notícia se espalhar.
Por http://planetasustentavel.abril.com.br em 19.9.2011
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